Contexto
Com a necessidade da adoção do isolamento social para conter o avanço da COVID-19, as instituições de ensino passaram a utilizar o ensino remoto emergencial ou a educação à distância como meio para promover o processo de ensino e aprendizagem. Diante da urgência para o retorno das atividades de ensino, ausência de vontade e interesse político e/ou de recursos que possibilitassem o desenvolvimento de plataformas próprias, várias instituições públicas de ensino, adotaram plataformas “gratuitas” das grandes corporações de tecnologia da informação – Google, Apple, Facebook, Amazom e Microsoft (GAFAM), para viabilizar o ensino. Em outubro de 2020, cerca de 70% das instituições públicas de ensino no Brasil adota o uso das plataformas corporativas da GAFAM, pelo menos, nos serviços de correio eletrônico (EDUCAÇÃO VIGIADA, 2020).
O uso de plataformas corporativas na educação pública possui várias implicações técnicas, políticas e econômicas para os usuários, para as instituições e para o próprio país. Atrás da gratuidade se escondem vários problemas que terão consequências a curto, a médio e a longo prazo para a sociedade: coleta dos dados dos usuários realizada por essas empresas, seja para comercialização ou para proporcionar a melhoria dos seus sistemas; a fidelização (ou adestramento) dos usuários e a dependência tecnológica das instituições e do próprio país aos monopólios de tecnologia de informação.
Promover a discussão sobre a vigilância na educação nos cursos de formação de professores torna-se de extrema importância. Recomenda-se a produção de podcasts para promover o ensino e a construção do conhecimento sobre esse assunto. Essa prática foi utilizada com alunos do curso de pedagogia.
Objetivos
- possibilitar aos futuros professores formação sobre vigilância na educação através da produção de podcasts;
- permitir a construção do conhecimento sobre o assunto de forma ativa e autônoma;
- possibilitar aos discentes a experiência de produzir conhecimento em formatos de arquivo de uso não convencional no meio acadêmico.
Recursos educativos
- Internet;
- programa de gravação de áudio – Audacity
- programa de edição de áudio – Audacity
- Canal para disponibilizar o podcasts – archive.org
- Bibliografias sobre vigilância em massa e na educação
Metodologia
1 – Discussão teórica
Durante as aulas, são realizadas discussões teóricas que tenham como base bibliografias sobre vigilância em massa e vigilância na educação. Sugestões de materiais para a discussão teórica: vídeos, artigos, livros e podcasts.
2 – Levantamento e seleção dos assuntos dos podcasts
Nesse momento os alunos se organizam em grupos e fazem o levantamento e a seleção dos assuntos que cada grupo irá pesquisar para desenvolver os podcasts. Recomenda-se os seguintes assuntos a serem trabalhados:
- implicações no uso de softwares proprietários na educação;
- vigilância em massa; mercado de dados pessoais;
- autonomia, soberania e vigilância;
- desigualdade, exclusão social e vigilância;
- capitalismo da vigilância;
- cultura livre e soluções livres e abertas;
- Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Esses assuntos são sugestões, portanto os grupos podem trabalhar outros assuntos de livre escolha, desde que estejam dentro do tema vigilância na educação.
3 – Levantamento bibliográfico
Os alunos, reunidos em grupos, realizam o levantamento bibliográfico sobre o assunto escolhido. Não é necessário que essa etapa aconteça em sala de aula.
4 – Construção dos roteiros dos podcasts
Nessa etapa, os alunos escolhem o formato de podcast que será produzido por cada grupo (entrevista, reportagem, roda de conversa…). Os grupos constroem roteiro inicial dos podcasts. Sugere-se que construção do roteiro ocorra fora da sala de aula, para permitir aos alunos maior liberdade para se organizarem.
5 – Apresentação do roteiro inicial
Em sala de aula, os grupos apresentam o roteiro inicial ao professor. São dadas as devidas orientações pelo professor para a continuidade e finalização dos roteiros.
6 – Apresentação do roteiro final
Nesse momento, os grupos apresentam os roteiros finais dos podcasts para a turma e para o professor.
7- Gravação do podcats
Reunidos em grupos, os alunos gravam os podcasts. Utiliza-se preferencialmente softwares livres para a gravação e edição dos podcats. Recomenda-se a utilização do software Audacity. Não é necessário que essa etapa ocorra em sala de aula.
8 – Publicação e divulgação dos Podcasts
O professor disponibiliza o material no canal previamente criado. Aqui também é recomendado que seja escolhido um canal desenvolvido em software livre, como o archive.org. O professor e os alunos realizam a divulgação do canal. Essa etapa final pode ser desenvolvida de forma assíncrona.
Número de aulas
A produção de podcasts tem início com a discussão teórica e é finalizada com a publicação e divulgação no arquivo de audio. Recomenda-se 10 aulas, síncronas e/ou assíncronas de 1 hora e 40 minutos cada.
Resultados
A produção de podcast traz importantes contribuições para a construção do conhecimento. É necessário que os estudantes se dediquem aos estudos sobre o assunto selecionado. Análise, síntese de informações, ideias e teorias são essenciais para a construção do roteiro a ser utilizado como guia para a produção do arquivo de áudio. O processo de gravação do arquivo é desafiador para muitos, por ser uma prática pouco utilizada na educação. Nesse sentido, construir podcasts contribui também para formação técnica dos estudantes. Construir podcasts é excelente para o processo de formação crítica dos estudantes sobre vigilância na educação. Os estudantes compreenderão o processo de vigilância e suas implicações técnicas, políticas e econômicas.
Por que recomenda?
A adoção do ensino remoto emergencial e o uso de plataformas corporativas por várias instituições de ensino, torna urgente que os cursos de formação de professores abordem o assunto vigilância na educação. Ao mesmo tempo que é importante compreender o problema – a vigilância, deve-se refletir sobre as possíveis soluções, como: alternativas livres e abertas.
A prática foi implementada e os podcasts estão disponíveis em: https://archive.org/details/@tecnouemg
Referências
EDUCAÇÃO Vigiada. Educação vigiada: Educação, privacidade e direitos digitais. Disponível em: <https://educacaovigiada.org.br>. Acesso em: 28 out 2020.
RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDO
BRUNO, Fernanda; et al (Orgs). Tecnologias da vigilância: perspectiva da margem. São Paulo: Boitempo, 2018.
CRUZ, Leonardo. O avanço do capitalismo de vigilância sobre a educação pública brasileira. Mirantes das Ciências Sociais FACS/UFPA. Disponível em: . acesso em 21 ago 2020.
GNU. Software Livre e Educação. Disponível em:< https://www.gnu.org/education/education.html>. Acesso em: 21 ago 2020.
GNU. O que é software livre? Disponível em:https://www.gnu.org/philosophy/free-sw.pt-br.html . Acesso em: 21 ago 2020.
MOROZOV, Big Tech: Ascenção dos dados e a morte da política. São Paulo: Ubu editora, 2018.
PARRA, Henrique; CRUZ, Leonardo; AMIEL, Tel; MACHADO, Jorge. Infraestruturas, economia e política informacional: o caso do google suite for education. Mediações: revista de Ciências Sociais. Londrina, V. 23, n. 1, 2018. Disponível em:https://cutt.ly/ohpTsuy . Acesso em: 08 ago. 2019.
SILVEIRA, Sergio Amadeu da. Software livre: a luta pela liberdade do conhecimento. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2004.
SILVEIRA, Sergio Amadeu da; PARRA, Henrique; CRUZ, Leonardo; AMIEL, Tel. Dimensão Político-tecnológica. Simpósio Intersindical: Desafios Educacionais em Tempos de Pandemia. Conflitos e contradições do trabalho educacional. 10 a 14 de agosto de 2020.
VIEIRA PINTO, Álvaro. O Conceito de Tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. v. 1.