Contexto
A motivação para elaboração da prática se deu a partir de uma demanda real de um grupo de alunos da 7º série da Escola Estadual Amélia Kerr Nogueira, no Jardim Horizonte Azul, São Paulo-SP. A partir de uma prática de violação dos Direitos Humanos ocorrida no grupo, nós elaboramos uma sequência de encontros visando discutir com a turma aspectos de cidadania digital. A aplicação da prática se deu no contexto de um estágio da Licenciatura em Educomunicação (ECA/USP) em parceria com o NEV – Núcleo de Estudos da Violência da USP.
Objetivos
O objetivo geral desta prática é alcançar maior compreensão entre os educandos sobre os riscos e as oportunidades do ambiente virtual na violação e na garantia dos direitos humanos. Mais especificamente objetiva-se:
– Incentivar a desmistificação da relação entre mundo real e mundo virtual;
– Apresentar os riscos encontrados nas redes e os possíveis danos deles decorrentes, com foco em cyberbullying, prática de nude e exposição excessiva na internet;
– Mostrar oportunidades de prática cidadã que a internet oferece;
– Fomentar a discussão na escola sobre cidadania digital, visando melhorar a relação entre os alunos no ambiente escolar e no virtual;
– Apropriar da linguagem audiovisual de youtubers para a construção de um produto.
Recursos educativos
– Dispositivos para projeção de vídeos (computador, sistema de som, telão);
– Acesso à internet;
– Papel craft ou cartolina;
– Dispositivo de captação audiovisual (câmera, tablet, celular etc.)
– Canetas;
– Papéis cortados;
– Fita crepe;
– Barbante.
Metodologia
Encontro 1
Acolhimento
– Apresentação do grupo (caso seja um grupo que não se conhece) e rodada de falas sobre o que cada um (1) gosta de fazer online, (2) gosta de fazer off-line.
– Os educandos são convidados a escreverem individualmente em um pedaço de papel uma frase-depoimento sobre alguma violência que tenham sofrido ou praticado na internet. As mediadoras recolhem os papéis, montam um mural da turma com todos os depoimentos e em seguida lêem as frases em voz alta. Os depoentes são convidados a se colocarem caso sintam-se à vontade.
– A partir da rodada inicial de falas e da leitura dos depoimentos, é feita uma conversa breve com o grupo provocando os participantes a enxergarem em que medida estão inseridos nos assuntos dos encontros, buscando a compreensão de que a temática a ser trabalhada nesta sequência tem a ver com o cotidiano de cada pessoa presente. Nesse sentido o acolhimento se encerra com a apresentação, por parte das mediadoras, da proposta de produto desses encontros: um vídeo para a comunidade escolar.
Sensibilização
– Exibição do vídeo “Palavras que Machucam”. (https://www.youtube.com/watch?v=sjCUd6QK6tM) seguido de uma breve discussão.
– Exibição do vídeo “Cyberbullying – Talent Show”. (https://www.youtube.com/watch?v=bdQBurXQOeQ)
Reflexão
Discussão conjunta (sala toda e mediadoras) sobre a existência ou não da diferença entre agredir alguém online e off-line. Palavras machucam? Qual a proporção delas na internet? Retomada dos depoimentos dados no acolhimento.
Atividade Reflexiva
Apresentação de uma pessoa que tenha sofrido ataques de ódio e/ou racismo na internet a partir de uma dinâmica dividida em 5 etapas. O exemplo escolhido nesta prática foi da menina Titi Gagliasso.
1- Apresentação de características da pessoa.
Menina; 4 anos; nascida no Malaui, um país do continente Africano; seu nome de batismo é Chissomo; ama sua família; gosta muito de brincar; dá risada com facilidade; tem muitos amigos; adora roupas coloridas; é negra; gosta de frutas.
2- Apresentação de fotos da pessoa.
– Convite para a turma tecer comentários sobre ela (espera-se que as falas sejam elogiosas, pois o clima criado é para tal. Caso seja feito algum comentário negativo ou ofensivo, é importante que as mediadoras não deixem passar e conversem com os participantes problematizando a fala, pedindo que o estudante explique a colocação).
– Compartilhamento com o grupo dos adjetivos atribuídos a ela por internautas.
Macaquinha; cabelo de palha; nariz de preto; macaca horrível; feia; nojenta.
– Mediadoras contam o desfecho da história e promovem uma discussão com o grupo sobre discurso de ódio na internet e racismo.
Fechamento
Retomar e registrar os aprendizados e discussões, visto que cada encontro inicia com o compartilhamento do registro do encontro anterior. A proposta de registro desta semana é a gravação de um vídeo curto no estilo Youtuber. Em grupos, os participantes devem elencar os pontos que aparecerão no vídeo e distribuir entre si as funções (quem filma, quem grava o áudio, quem será âncora/Youtuber).
Encontro 02
Acolhimento
Exibição dos vídeos-registro produzidos no primeiro encontro e conversa sobre acontecimentos cotidianos que tenham vivido que se relacionem com o que discutimos.
Atividade Prática e Reflexiva
– Cada educando receberá um cartão amarelo e um rosa nos quais deverá escrever um direito e uma responsabilidade, respectivamente, com relação ao uso da internet por adolescentes.
– Em seguida, a turma será dividida em três grupos que devem discutir as respostas dadas individualmente e chegar a um consenso de no mínimo 5 respostas construindo um cartaz do grupo. É importante que as mediadoras auxiliem os grupos nas discussões, circulando entre a turma e problematizando as respostas dadas, tendo em vista fugir do senso comum.
Exemplo de cartaz:
Direitos
Liberdade de expressão; Direito de resposta; Acesso à informação; Participação; Informação Confiável
Responsabilidades
Respeito pelos outros; Compartilhamento seguro; Não propagar informações falsas; Cuidado com informações pessoais divulgadas; Contatar autoridades em caso de violações
– Cada grupo compartilhará com a turma toda o cartaz produzido e as principais reflexões levantadas.
– Após os compartilhamentos, a turma toda elaborará um documento final, síntese da discussão de todos os grupos. Este pode ser feito na lousa ou digitalmente. É importante que todos se sintam parte do produto final, vendo a discussão se seu grupo representada no material.
Atividade Prática e Reflexiva 2
– Divisão dos grupos para o trabalho final e início da produção do roteiro.
– Exemplo de esqueleto de roteiro que pode ser entregue impresso para os grupos preencherem.
IDENTIFICAÇÃO
Grupo:
Série:
EQUIPE
Quem vai escrever o roteiro: todos e todas!
Quem vai filmar:
Quem vai cuidar do áudio:
Quem vai apresentar:
Quem vai pensar no cenário, figurino e maquiagem:
LOCAÇÃO
Onde será gravado:
MATERIAIS
Quais materiais precisamos providenciar para o dia da gravação:
CONTEÚDO
Quais assuntos serão tratados e em que ordem:
1)
2)
3)
Quais dicas vocês darão aos espectadores?
SCRIPT
O que vocês falarão exatamente:
AULA 03
Acolhimento
Apreciação do cartaz coletivo construído pela turma no último encontro para lembrança das discussões. Conversa sobre acontecimentos cotidianos que tenham vivido que se relacionem com o que discutimos.
Atividade prática e reflexiva
A partir do roteiro, os grupos partirão para a gravação do produto audiovisual, tendo em vista a conscientização da comunidade escolar sobre o que o grupo estudou nesses encontros. A gravação é feita com a mediação das educadoras.
Fechamento
Organização dos materiais gravados.
AULA 04
Acolhimento
Em roda, três pessoas do grupo são escolhidas para contar uma história que viveram. A partir da exposição, serão feitas perguntar:
– Por que só três pessoas puderam falar?
– Vocês contaram todos os detalhes da história ou faltou algum?
– Por que omitiram? Por que escolheram contar essas partes?
Atividade prática e reflexiva
– Exibição do filme “Levante sua voz”- (https://vimeo.com/7459748). É importante contextualizar o documentário, falar que é uma produção feita no ano de 2009. Dessa forma, o que precisamos pensar é nas escolhas que fazemos quando editamos um vídeo.
– Discussão possível:
Como são feitas as escolhas do conteúdo exibido em um vídeo?
Quem escolhe?
O que está por trás das escolhas?
Atividade prática e reflexiva 2
A edição do vídeo é sempre um desafio, pois necessita de equipamentos, programas de edição e certo conhecimento.
1- Caso a escola tenha estrutura – computadores e programa de edição – você pode preparar uma apresentação para ensinar os comandos do software escolhido.
2- Caso não haja essa estrutura, uma possibilidade é perguntar aos alunos se alguém conhece e utiliza programas de edição de vídeos e firmar tal parceria para a finalização do vídeo.
3- Outra escolha pedagógica, é assumir que a finalização seja feita pela própria mediação, a partir do roteiro construído.
Segue uma indicação de editor de vídeo:
Clipchamp (https://clipchamp.com/pt-br/)
AULA 05
Acolhimento
Com os vídeos finalizados, será feita uma exibição. Pode ser organizada só para a classe ou ampliar para outras turmas. É um momento de finalização de um projeto, então pode-se pensar em uma sessão pipoca, roda de conversa com os produtores do vídeo, para contar a outros colegas como foi o processo ou simplesmente uma exibição.
Avaliação
Após a exibição, é o momento de avaliar o produto, o processo e instigar uma autoavaliação. Para isso, sugerimos uma roda de conversa com perguntas norteadoras.
– O que vocês acharam dos vídeos?
– Quais as dificuldades que encontraram?
– Como avaliam a sua participação no projeto?
– O que aprenderam?
Fechamento
Atividade da “Teia de Direitos Humanos”: dinâmica que visa mostrar a importância dessa “teia”/rede de direitos que ampara o cidadão. Para realizá-la todos ficam em roda, uma pessoa inicia com o barbante na mão, fala um direito fundamental e passa a ponta do barbante para outro participante. No final, cria-se uma grande teia e vem à tona a reflexão da importância de todos segurarem as pontas, para que não deixe o grupo.
Número de aulas
Cinco encontros com duração de duas horas cada.
Resultados
O resultado mais explícito dessa prática é a elaboração de um vídeo referência para escola. No entanto, notou-se que os estudantes estavam mais apropriados dos conceitos de direitos e deveres, sabiam sites para procurar ajuda em caso de crimes virtuais, expressaram suas ideias em relação às vivências virtuais.
Por que recomenda?
Essa é uma prática baseada na abordagem educomunicativa, que utiliza recursos simples. Pode ser adaptada à realidade de cada educadora/educador. As discussões e sequências partiram de uma necessidade real e emergiram de diálogo e troca.
Adaptação/recriação
A prática tem como inspiração os materiais do NIC.BR e da Safernet, mas não consideramos que seja uma adaptação ou recriação.
Referências
CAPRECCI, A. C.; LUZ-CARVALHO, T. G.; BLOTTA, V. Licenciatura em Educomunicação navegando por novos horizontes: relato de experiência extramuros com cidadania digital. In: SOARES, I.; VIANA, C.E.; PRANDINI, P. D. Educomunicação, Transformação Social e Desenvolvimento Sustentável. São Paulo, 2020. Disponível em: . Acesso em 4 de novembro de 2020.
Diálogo virtual 2.0: Preocupado com o que acontece na internet? Quer conversar? Disponível em:http://new.safernet.org.br/sites/default/files/content_files/Di%C3%A1logo_Virtual_Low_Web_SN_Unicef_PFDC_CGI.pdf. Acesso em 4 de novembro de 2020.
Guia da Internet Segura. Disponível em: http://internetsegura.br/pdf/guia-internet-segura.pdf. Acesso em 4 de novembro de 2020.
#InternetComResponsa. Disponível em: http://nic.br/publicacao/internet-com-responsa-cuidados-e-responsabilidades-no-uso-da-internet/. Acesso em 4 de novembro de 2020.
The Web We Want. Disponível em: http://new.safernet.org.br/content/web-we-want-%E2%80%93-web-que-queremos Acesso em 4 de novembro de 2020.
TERTO, A. As bonecas preferidas de Titi, filha de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, são retratos dela mesma. Disponível em: https://www.geledes.org.br/as-bonecas-preferidas-de-titi-filha-de-bruno-gagliasso-e-giovanna-ewbank-sao-retratos-dela-mesma/?gclid=EAIaIQobChMIsoTHnav02gIVloaRCh2J4APmEAAYASAAEgJhxvD_BwE. Acesso em 4 de novembro de 2020
Imagens
Áreas do conhecimento
Competências gerais da BNCC
- Argumentação e defesa de ideias
- Autoconhecimento e autocuidado
- Cultura digital
- Empatia e cooperação
- Pensamento científico, crítico e criativo
- Responsabilidade e cidadania