Contexto
A motivação para elaboração da prática se deu em função da solicitação de uma escola particular do estado de SP para realizar-se oficinas com crianças e adolescentes sobre comportamento tóxico em videogames.
A escola traz preocupação com a briga de duas crianças de 12 anos durante uma partida de jogo eletrônico, sendo que uma sugeriu a outra que esta devia suicidar-se por ter falhado no jogo. Por comportamento tóxico se entende os comportamentos conhecidos como:
- trollagem (comportamento antidesportivo no qual o jogador vai contra as regras de conduta atrapalhando o intencionalmente outros jogadores); scamming (comportamento fraudulento ao negociar mercadorias com outros jogadores);
- assédio verbal (conhecido também como Flamming, que consiste em enviar mensagens ofensivas por meio do chat de texto ou do chat de voz);
- assédio sexual (manifestações ameaçadoras e perturbadoras, de cunho sexual íntimo, especialmente dirigido a mulheres e a comunidade LGTB+);
- trapaças (também conhecidas como hacks, se constituem no uso de softwares que concedem vantagens injustas com relação a outros jogadores violando as regras do jogo).
Esses e outros comportamentos negativos podem ocorrer durante as partidas de jogos eletrônicos multijogadores. Por acreditar que os jogos possam ser um espaço livre e saudável foi construída essa prática.
Objetivos
O objetivo geral desta prática é promover reflexões sobre comunicação não violenta, respeito pelo outro e gentileza, dentro dos ambientes de jogos digitais. Objetivos específicos
- Incentivar a reflexão com relação aos comportamentos no mundo online no mundo virtual;
- Apresentar os problemas e consequências do comportamento tóxico em jogos;
- Incentivar comunicação empática e não violenta durante as partidas de jogos;
- Fazer uma reflexão sobre os possíveis impactos desse comportamento nas vítimas, em especial mulheres e população LGTB+
Recursos educativos
A disciplina foi concebida para aplicação online por conta do contexto da pandemia. A mediadora e os alunos trabalharam juntos na plataforma eatherpad.
Metodologia
Formato: A oficina foi realizada de forma online, tendo a participação de 15 crianças do sétimo ano de uma escola particular. As crianças foram solicitadas a escrever no eatherpad respostas para as seguintes perguntas:
1) O que é brincadeira?
2) Tem brincadeira que magoa?
3) As palavras podem machucar?
A partir das respostas das crianças com relação ao que consideram brincadeira, aparecem de forma geral sentimentos positivos com relação ao brincar tais como se divertir, estar junto dos outros, estar junto da família, relaxar, entre outros. A partir das respostas da segunda pergunta, a mediadora começa a contrapor essas ideias com o conceito que descreveram anteriormente de brincadeira, o que é associada a coisas positivas. As crianças trazem com relação à segunda pergunta sentimentos com relação a piadas ou maus tratos recebidos e que não gostaram ou que ficaram chateados. A mediadora questiona se as brincadeiras foram feitas de forma online o virtual, e a partir daí começa a perguntar sobre como são feitas as brincadeiras em jogos online.
A partir do levantamento do que as crianças escutam nos jogos online, a mediadora começa a fazer uma discussão sobre o que significa comportamento tóxico. A maioria das crianças desconhece esse conceito e considera natural que os ambientes de jogos sejam marcados por palavrões, ofensas, insultos e assédios. A mediadora trabalha no sentido de que eles entendam de que não é necessário que os jogos sejam dessa forma, e que pode haver outro tipo de comunicação durante as partidas. Além disso, trabalha com os conceitos de que uma brincadeira ou um jogo é bom quando todos estão felizes e se divertindo, sem exceção de ninguém.
Brincadeiras onde alguém fica chateado ou magoado não são boas brincadeiras. Neste momento traz-se discussão sobre a questão do peso das palavras, e se as palavras têm o poder de machucar. Trabalha-se então conceito de comunicação não violenta, explicita se que para que os times de jogos funcionem melhor é necessário ter uma comunicação mais efetiva e mais respeitosa. Também é discutido o que fazer diante de uma situação de comportamento tóxico, qual seja: reportar o comportamento do jogador a plataforma de jogo; bloquear o chat de texto ou de voz; abrir queixa em delegacia virtual, em casos de crimes (racismo, por exemplo); denunciar o jogador agressor a Safernet Brasil, caso a plataforma não tenha tomado atitudes e o jogador persista em importunar a vítima.
Fechamento: São reforçadas as ideias de que cada um deve fazer a sua parte para manter uma comunidade de jogos mais saudável.
Número de aulas
Um encontro com 2 horas de duração.
Resultados
O resultado da prática é a apropriação dos conceitos de respeito empatia comunicação não violenta e respeito ao próximo. os estudantes estiveram mais apropriados e tiveram um entendimento melhor do que significava comportamento tóxico, dado que vários deles assumiram que praticavam tais comportamentos, mas não tinham consciência dos impactos nas vítimas Enem na comunidade de jogos como um todo. Foi possível refletir sobre o que são essas práticas, como elas podem ser prejudiciais, bem como o que fazer caso sejam vítimas de violências virtuais. Aos que praticam coube uma reflexão de que cabe a todos fazer uma comunidade de jogos melhor e com mais respeito.
Por que recomenda?
A prática é recomendada pois o uso de jogos entre crianças e adolescentes está extremamente disseminado , ainda mais no contexto do isolamento social proposto pela pandemia que deixou reclusas várias crianças, constituindo-se muitas vezes na sua única forma de socialização. O comportamento de agressão verbal, realizado em em jogos, muitas vezes é reproduzido em redes sociais, e daí a importância de reforçar os conceitos de uma comunicação mais efetiva, menos violenta e mais gentil na internet.
Adaptação/recriação
A prática tem como inspiração os materiais como o livro “O que as famílias precisam saber sobre games: um guia para cuidadores de crianças e adolescentes” Fortim, (org), manuais do NIC.BR, manuais da Safernet Brasil, materiais do Instituto Dimicuida. Foi inspirada também pela prática Direitos e Deveres Online (Andresa Caprecci e Tatiana G.C.Luz), mas não considero que seja uma adaptação ou recriação.
Referências
FORTIM, I. (org). O que as famílias precisam saber sobre games? Um guia para cuidadores de crianças e adolescentes. Disponível em: https://cartilhagames.com.br/
ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. Editora Agora, 2006. Tem perigo no ar. Instituto DimiCuida. Disponível em http://www.institutodimicuida.org.br/
Diálogo virtual 2.0: Preocupado com o que acontece na internet? Quer conversar? Disponível em: http://new.safernet.org.br/sites/default/files/content_files/Di%C3%A1logo_Virtual_Low_Web_SN_Unicef_PFDC_CGI.pdf. Acesso em 26 de maio de 2021
#InternetComResponsa. Disponível em: http://nic.br/publicacao/internet-com-responsa-cuidados-e-responsabilidades-no-uso-da-internet/. Acesso em 26 de maio de 2021
Andresa Caprecci e Tatiana G.C.Luz. Direitos e deveres: Disponível em: https://pilaresdofuturo.org.br/praticas/direitos-e-deveres/ Acesso em 26 de maio de 2021
O plano de aula é atual e útil, visto que, as crianças estão cada vez mais inseridas no mundo de comunicação virtual, os jogos online além de serem utilizados por elas em momentos de lazer, em algumas instituições é usado como forma de exercícios de fixação e mostrar a mostrar uma forma nova de educação, um exemplo é a OjE – Olímpiadas de Jogos e Educação. Os jovens criam próprias gírias e muitas delas são de origem desrespeitosa, então, trabalhar tal assunto em sala de aula é essencial, o debate sobre respeito deve estar sempre presente em todos os âmbitos.
Uma pequena sugestão para o plano de aula é que exista uma constância em relação ao assunto, que consista em mais de uma aula com duração de duas horas, sempre encaixar o assunto em outros debates, não necessariamente sobre o campo virtual, mas também em atividades em grupos que geralmente traz conflitos entre os alunos.
Com o mundo globalizado, e uma sociedade cada vez mais conectada, problemas com atitudes tóxicas na internet passam a ser cada vez mais frequentes. Isso se torna muito mais preocupante quando essas atitudes partem de crianças e adolescentes desavisados, que não entendem a gravidade dessas atitudes, e tomam esses comportamentos como algo normal. É de suma importância que a escola, como sendo a principal instituição que auxilia na formação desses jovens, tenha no currículo, campanhas de conscientização sobre esse tipo de atitude.
Uma sugestão para o plano de aula.
Por estar lidando com crianças e adolescentes, além da atividade de rereflexão proposta, seria interessante também uma atividade prática com jogos (não necessariamente virtuais). Assim, tornando a aula mais interativa, trabalhando o espírito esportivo e mostrando para esses jovens, na prática, atitudes saudáveis para se ter. Não somente em jogos, como também em outros ambientes, sejam esses virtuais ou não.
Olá Aroldo, obrigada por seu comentário!
Convidamos você a remixar essa prática e mandar uma nova prática com as complementações que você sugere!
Os jogos online estão cada vez mais presentes na vida das crianças e dos adolescentes, e é possível ver essa presença cada vez mais cedo na roti+6na infantil, surge então a necessidade de intervenção escolar. A escola e os professores estarão presentes nesse processo como agentes educadores de práticas corretas de comunicação e convivência no ambiente virtual. Como foi apresentado no texto a intervenção escolar será de suma importância para instruir as crianças sobre atitudes que podem ou não ser tomados em jogos, atitudes que muitas vezes, inocentemente, elas têm sem sequer saber que são estão erradas. Para aplicação desse plano de aula presencialmente sugiro o acréscimo da realização de jogos ou brincadeiras com a turma, visando trabalhar o espírito de atleta, saber ganhar e perder, e para que durante a realização do jogo possa ser analisada a atitudes dos alunos, a fim de produzir um novo plano de aula também focado no respeito durante jogos, sejam onlines ou presenciais.
O texto é bem útil, esclarecedor e fundamental para a atualidade. Ótimo plano de aula para as crianças aprenderem sobre comportamentos tóxicos em jogos.
Pelo contexto, nota-se que, é de suma importância retratar sobre o tema de todas as formas possíveis, para que os jovens e as crianças entendam que não é normal, por exemplo, o comportamento de agressão verbal, quer seja virtual ou presencial. Para que o respeito mútuo aconteça em jogos, é importante trabalhar sobre, principalmente nas escolas, não só com perguntas, mas de forma lúdica, dinâmica e com exemplos feitos com os próprios alunos, seria importante trabalhar com os alunos por uma semana, como uma forma de intervenção, com jogos para eles jogarem e, assim, mostrar que não é necessário tratar com agressividade os outros jogadores, que o jogo é para se divertir. Ivelise Fortim está de parabéns.
Um texto útil, levando em consideração que os jogos online estão cada vez mais presentes, principalmente na vida de crianças e adolescentes. É importante cuidar desse assunto cedo, uma sugestão que eu dou é tratar disso de forma mais ampla, frequente e adiantada nas escolas, para as crianças lidarem com e entenderem a fonte do problema, após isso então, poder evitar e saber como agir nessas situações.
Este plano de aula é bem útil e informativo, já que os jogos e plataformas virtuais estão mais presentes na vida cotidiana cada vez mais cedo. Crianças tendem a agir como reflexo do meio em que se encontram, então aprender como é um ambiente virtual saudável é muito importante. Sugiro que além do momento de reflexão dos alunos com o questionário, tenha um momento “prática”, como jogos de interação onde seja proposto um objetivo em comum.